Foi assim, numa pergunta sem muito interesse filosófico o despertar de um questionamento: Realmente estou aqui? Primeiramente veio o espírito gaiato que fez o favor de lembrar-me do meme no qual aparece a foto do Tiririca num fundo preto que se encontra escrito: “Tentei fugir de mim. Mas em todo lugar que eu ia, eu tava lá.” Verdade completa, não tenho como fugir de mim mesmo me impedindo de me deslocar espacialmente, mas a pergunta continua no ar, realmente estou aqui?
Após rir da gaiatice lembrei-me também de outra frase, aí sim muito mais profundo de São Josemaría Escrivá: “Faz o que deves e está no que fazes”. O questionamento não é deslocado da realidade, perguntar a mim mesmo se realmente estou aqui leva a seguinte interrogação: Sou eu mesmo quem estou conduzindo minha vida ou somente a levo a toque de caixa, no “deixa a vida me levar” cantado pelo trovador carioca?
Ledo engano ao pensar que somente eu conduzo a minha vida, até porque não depende de mim a própria manutenção do meu ser, tendo em vista que quem sustenta é o Ser, a quem chamamos Deus. Seja num contexto religioso baseado na Revelação divina ou na investigação filosófica de primeira grandeza, ser e estar confundindo-se e assemelhando-se.
Admitir que as coisas são e que estão presentes ajuda a compreender que tudo ao meu redor não depende de mim para existir — e aqui outra confusão filosófica entre o ser e o existir, mas é assunto para outra hora — nem que minha existência é o centro do universo, tendência altamente egoísta que você e eu, caro leitor, carregamos em maior ou menor grau.
Outro fator que entra na investigação é o cálculo. Quantas vezes para tentar ter controle sobre a vida e sobre os atos futuros tentei contabilizar os passos a serem dados numa tentativa frustrada de me parecer ao Senhor do tempo e da história? A vida para ser vivida de modo pleno não suporta mesquinharia, acaba-se atualizada a tentativa primeira da humanidade transmitida até hoje pelo livro do Gênesis: “Sereis como deuses” (Gn 3, 5).
Não é possível querer adiantar anos à frente daquilo que está diante do meu nariz — está no que fazes, repita Escrivá — se minha circunstância hoje é essa, e que a viva da melhor forma possível tendo em conta que não depende somente de mim — trabalha como se tudo dependesse de ti e confia como se tudo dependesse de Deus, afirma o fundador da Companhia de Jesus.
Respondendo a pergunta originária deste texto, sim estou aqui (e você está aí, e é bom que você está mesmo) em Niterói, mas posso estar com a cabeça nas nuvens, ou com o coração em Santa Cruz ou com o pensamento em maio de 2021 , mas devo estar aqui, porque a mim resta somente esta parcela de tempo. Até chegar lá, 2021 ou o próximo final de semana, terei que passar pelo hoje, que daqui a pouco se torna ontem e em breve chega o amanhã. É bom estar presente, porque na chamada da vida, a primeira falta já reprova.
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