Sim, estou em 2020. Tive esse estado de que estou no futuro quando estava no carro que chamei a partir do iPhone usando a rede 4G e conversando via WhatsApp com minha noiva que trabalha na Zona Norte do Rio e com meu pai na Zona Oeste e eu estou em Niterói, do outro lado da Guanabara. Chegando o destino, o também smartphone motorista do parceiro do 99 — afinal eles não são empregados, avisa-nos com aquela voz metálica da inteligência artificial: “destino a frente, corrida paga em dinheiro”, lembrando a mim e ao condutor que está na hora de separar as trocas e de que o fim da corrida se avizinha.
Quantas coisas estão ao meu redor e acessíveis que minha avó em 1950 não sonhava que existisse ou que seria possível? Ela passou por várias revoluções tecnológicas, desde o rádio até o smartphone — Dona Hilda nos deixou em 2016 — e eu já naquela época fiquei me questionando como reagirei ao futuro. Não só em relação à tecnologia, mas ao mundo e a mim mesmo.
Louis Lavelle diz que o instante é precisamente o cruzamento do tempo com a eternidade, e é este curto espaço de tempo que tenho, e o filósofo francês continua a dizer que é nele que agimos, é nele que o
real toma para nós a sua forma sensível ”. De que adianta conjecturar o futuro, seremos seres biônicos como na série Black Mirror ou e se vivermos entre paus e pedras depois de um cataclisma nuclear, se este instante que temos eu o faço troça com ele.
Carpe diem, dizem alguns.
Memento mori, afirmo outros.
Unem-se as duas sentenças latinas: Memento mori carpe diem — Lembre-se que vai morrer, aproveite o dia.
Sábios monges que cunharam esta expressão que não deveria ser mutilada. Uma sem a outra fica sem sentido. O carpe diem torna-se uma ode à vida sem consequências, afinal aproveite o dia. Memento mori puro e simplesmente transforma-se no cântico fatalista; vamos morrer. Mas se o instante é a articulação entre o tempo e a eternidade, o vivamos da melhor forma possível, sabendo que sim, a eternidade chegará. Como chegou para minha avó em 2016.
Não posso dizer que Dona Hilda foi uma mulher do seu tempo porque muitas das ações que ela fez chega até mim hoje — e agradeço a Deus por chegar. Restringir a ser “homem ou mulher do seu tempo” é reduzir a capacidade que os atos humanos têm de chegar até hoje e ir além. Sim, minha vida é circunscrita no tempo evidentemente, como a de todos são, mas você e eu somos chamados a sermos eternos.
Em 2070 pouco me importa se teremos olhos biônicos que substituirão as câmeras de nossos smartphones ou que drones entregarão nossas encomendas da Amazon ou até mesmo se o homem terá pisado em Marte, interessará mesmo se vivo hoje, em 2020, de modo verdadeiro e intenso, pois a eternidade já se avizinha. Na atualidade não há espaço para o cálculo, para a mesquinhez, para o egoísmo e outras formas de se jogar fora desse instante que tenho. Na eternidade com o Eterno só há espaço para o Amor e é ele quem permanece.
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